Eu (ainda) não ouvi o disco mas a FLUR diz:
Começar com uma falsa frase redutora: Portugal dos anos 80 no coração? Variações, Ocaso Épico, Pop Dell'Arte de "Free Pop", "Independança" dos GNR, primeiro álbum dos Heróis do Mar, são referências que passam por "É Isso Aí", umas permanecem mais tempo, mas existe sobretudo uma ligação a um certo DIY misturado com ingenuidade e, ao mesmo tempo, os conceitos bem delineados.de músicos com ideias fortes. Já tínhamos confessado o nosso amor por "Siga Para Bingo", canção dos Aquaparque na compilação Flur/Filho Único (Natal 2007). Ficámos com desejo de mais e este álbum é, sem exagero, dos discos que mais ansiosamente aguardávamos desde final de 2007. Saídos dos extintos dAnCE DAMage, André Ferreira (também dos essenciais Tropa Macaca) e Pedro Magina formalizam em "É Isso Aí" um sólido leque de canções cantadas em português sem que a nossa língua pareça estranha ou sem musicalidade. Trabalhar assim uma língua tão difícil como a nossa surge com incrível naturalidade. A escrita de André e as entoações de Pedro cortam estigmas da canção cantada em português: podemos imaginá-la sem limites, equiparável à habitual anglo-saxónica, logo, sem entraves à imaginação. O céu é o limite, costuma dizer-se, e aqui ele está bem ao nível da terra e mesmo ao nosso lado. Este é o Portugal de aqui e agora, contemporâneo sem a mitificação da tradição, e é exactamente por isso que "É Isso Aí" nos põe a olhar para a frente e não a pensar demasiado no que está atrás. Aquaparque transportam muito entusiasmo pelas margens do rock mas sabem, como ninguém o fez cá até agora, atribuir-lhes um contexto nosso, pensar local, uma extraordinária adaptação do slogan "vá para fora cá dentro" porque o álbum é mesmo fora e muito nosso mas dispensa facilmente os habituais fantasmas da música portuguesa. Afinal, falamos de músicos que se revelaram ao mundo e conviveram com a geração de Loosers, Caveira, Gala Drop, Fish & Sheep, One Might Add, só para nomear alguns. Tudo nomes que suscitam orgulho, porque não nos fazem sentir mais pequenos, não se limitam geograficamente: é música universal, como toda ela deve ser. Imaginem Panda Bear em plena no wave a tentar fazer música baleárica. Aquaparque avançam e recuam nas canções, confundem, baralham e às vezes não voltam a dar as cartas, mas nunca perdem o que faz de uma canção uma canção: acessibilidade, a estranheza que dá carisma. Sobrepõem samples, cortam-nas, fazem uma espécie de pop que quase dá para dançar, as melodias surgem por alquimia espontânea como se surpreendessem até os próprios músicos, a sensação é de que ISTO estava só à espera das pessoas certas para se manifestar em música. É uma entidade que veio do Além, que é tudo o que conhecemos e tememos enfrentar mas também é o absoluto desconhecido. Demora a compreender as INCRÍVEIS letras, mas isso é um exercício valioso para descobrir o verdadeiro objecto cultural que aqui temos. Todos nós - vocês incluídos - esperávamos por este disco.
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