
Nascido do esquelético e frágil corpo de Bradford Cox, dos soberbos Deerhunter (que o ano passado lançaram duas preciosidades em LP e EP), da-mos com os ouvidos neste seu primeiro trabalho a solo, demonstrativo do potencial deste homem subnutrido e de costelas à vista. Mais focado, domado, contido e discreto que o seu trabalho anterior, em matilha, é-nos oferecido um conjunto de faixas ecléticas mas homogéneas, em registo pausado, transparente e cristalino, como se tivessem sido gravadas no fundo de uma gaveta adormecida. São 14 faixas dotadas de uma atmosfera muito pessoal, em que os mesmos ingredientes (guitarras treinadas, percurssão traumatizada,electrónica menina, e outros instrumentos em detalhe) são moldados à infinita voz e narração de Cox, exteriorizando a sua intimidade. Bem vindos ao casulo desta bela adormecida.
http://www.myspace.com/bradfordcox

2- Devastations- Yes, U- Beggars Banquet 2008
Três faces resguardadas (dos autores deste testemunho), servem de capa ao segundo album dos australianos Devastations; e se o nome não é misericordioso, o que anda lá por dentro também não o é. A devastação aqui praticada é obtida pelos métodos menos óbvios, mas atingidos os mesmos fins; obtando por uma sonoridade recta e circunspecta, ao invés de uma dissemelhante e pomposa, este trio é cirúrgico e disciplinado na exposição da sua essência. Toda esta aparente calma, control e minimalismo escondem uma fúria emocional espelhada em sons cavernosos e industriais, texturas aliciantes e hipnotizantes, e átomos e partículas vocais. Aqui não se aplaudem bárbaras explosões, apenas se vislumbram bravas implosões de modéstia e honestidades desarmantes. Bem vindos a este romance redigido em caves escuras.
http://www.myspace.com/devastations

Brits Andrew Hung e Benjamin John Power, lembraram-se, a partir do ano de 2004, de cruzar Godzillas com caniches, de impiedosos com fraternos, de odiáveis com adoráveis, e este é o som dessa arriscada, mas bem sucedida, experiência. O seu monstro mais recente, de seis membros, começa dócil e domado, mas vai acentuando a sua dor, terminando em auges gritantes e dementes. É como uma doença, confortável na sua fase primária mas que se vai agonizando em espiral, até culminar na fase mais aguda e dolorosa. Partilhando a árvore geneologica de uns Gang Gang Dance, Black Dice, Boredoms, mas também de uns Animal Collective e My Bloody Valentine, os Fuck Buttons primam pelos círculos de distorção, pela brutalidade com pedigree, mas numa devoção deveras emocionada. Este é o ruído da abertura de um papel de rebuçado, esta é a doçura de uma câmara de tortura. 
