quinta-feira, 26 de junho de 2008

Inspiração&Expiração

Inspiração- Kelley Polar
I Need You to Hold on While the Sky Is Falling
Environ; 2008
Kelley Polar tem residência fixa nos astros, por lá tece a sua música, por lá dá azo à sua verdade, por lá veste-se de pureza, por lá dá ritmo às suas palavras, por lá vai jorrando melodia. O seu album anterior,o majestoso Love Songs of the Hanging Gardens(2006), era a viagem a caminho, o destino a meio, numa entusiástica combinação de disco beats e metais, ritmo e mistério cósmico, que aguardava a sua chegada além estratosfera, e ela acontece aqui. Kelley Polar, violinista dedicado, vagueia entre a pop e o melodrama, a teatrialidade e as referências clássicas, criando serenas extravagâncias que cabem tão bem na solidão de uma pista de dança, sem bolas de espelhos mas com estrelas em nascimento, como na companhia de uns headphones, que mal se sentem apegados ao ouvido, tamanho é o conforto. Os jogos sonoros, os labitintos rítmicos, a condução da voz (que por vezes lembra Erlend Oye ou Patrick Wolf, mas com pêlos,macios, no peito), de fôlegos e suspiros, por vezes com companhia feminina , criam atraentes esculturas de gelo que dificilmente derretem, polígonos simples e complexos, campos de batalha feitos de desertores. Kelley explora a diversidade e a leveza do ser, por entre sonhadoras paisagens electro-prog, meditação ambiente, sci-fi synths, beats sonhadores, restos de disco, electrónica com pulsação, cordas, violinos, basslines, tudo isto orquestrado pela sua pacífica voz, num grato trabalho de pura elegância, que se inspira e que inebria.

Entropy Reigns (in the Celestial City) - Kelley Polar




Expiração-Neon Neon
Stainless Style
Lex; 2008
O projecto Neon Neon juntou, algures em 2006, a cabeça dos Boom Bip(Bryan Hollon), perito em texturas hip hop, beats&samples&experimentalismo, ao corpo com voz dos Super Furry Animals (Gruff Rhys), perito em pop multicolor,que colhe de todos os géneros musicais. Boom Bip já denotava no seu último Ep, Sacchrilege, uma certa atracção, e afecto, pela electrónica predominantemente dancável, pelos tecnho-beats, e pelas loucas festas from L.A, denunciando o que poderia vir a acontecer, contudo, só lhe faltava arranjar um parceiro à altura, e encontrou-o na demência, e engenho em propulsão, de Gruff Rhys. O casamento entre ambos não é estranho para quem acompanha as suas tonalidades musicais, e vasto e diverso reportório, uma vez que a palavra criatividade faz parte do seu dia a dia, e de trabalho em trabalho, vão evidenciando todo o seu potencial em trapézios sem rede. Neon Neon é um original, e brilhante, tributo (em formato réplica) aos anos 80, e tudo o que de admirável se colheu nestes anos dourados, que vai buscar ao electro, ao pop, ao rock, ao hip hop, ao rap,ao funk, ao electrohouse, ao new wave, ao new rave, ao synth-pop, ao Miami bass, ao Detroit techno, ao Chicago house, ao Italo disco, e a mais uma centena de apartamentos estilizados, tudo isto condensado e devidamente embalado em 12 luxuosas faixas, que têm tando de nostálgico como de futurista. Para os Neon Neon não há limites, cada faixa é uma plataforma que incrementa, que respira de forma diferente (do humor à seriedade, do romance à solidão, do suor à horizontalidade) apesar de partilhar o mesmo fôlego, a descontraida voz de Gruff Rhys, entre convidados especiais, como Har Mar Superstar e Spank Rock. Aqui soltam-se os nervos, e expira-se e acelera-se sobre pistas oleadas e mal decoradas, fardado a casacos de pele e pontiagudos saltos altos. Michael Douglas, aqui vou eu!!!

Sem comentários: